Aprender a nadar
- Rubens Macouff
- 12 de mar. de 2018
- 2 min de leitura
Certa vez, em uma reunião com meu chefe, pude notar a precisão com que alguns engenheiros, que cuidavam de uma obra dele, respondiam as perguntas.
Sempre havia uma resposta objetiva, direta e resoluta. Nada de “vai depender de”, “pode ser que”, “temos que avaliar isso”, “as pesquisas indicam” e outros eufemismos que às vezes eu tenho de usar para responder as perguntas que ele me faz.
Por mais capacitado que um profissional possa ser, é certo que meu trabalho não é uma ciência exata e, a não obviedade dele é o que o agrega valor e me faz necessário por ter a habilidade de dominar e correlacionar os cenários.
Contudo, confesso que naquele momento, senti uma pontinha de inveja dos engenheiros que podiam dar respostas finais.
É notável a distância que há entre o que se aprende na faculdade e como as coisas acontecem na prática.
Especialmente em uma área de tão rápidas transformações como a comunicação, que é diretamente impactada pela tecnologia.
A qualquer momento, parte do que se aprendeu, pode não servir para nada.
E eu adoro isso.
Há quem odeie, mas eu adoro.
Ouvi uma palestra do Ricardo Amorim, em que ele destaca que uma importante habilidade para os profissionais do futuro, é a capacidade de desaprender e reaprender a medida que o mundo muda.
E eu concordo.
Entretanto, existe um problema aqui.
Sem o monopólio da aprendizagem nas mãos das escolas, faculdades e instituições dedicadas a isso, não há mais certo e errado.
Apenas formas diferentes, todas, essencialmente pragmáticas.
Assim, um maremoto de informação começa a se formar sobre nossas cabeças e neste oceano de vozes, temos que escolher quem ouvir.
E quando se trata desta escolha, no nosso contexto, o próprio princípio de escolha perde seu significado.
Se considerarmos que escolher é conhecer as alternativas e optar por uma delas, concluiremos que escolher o que ouvir, não é uma escolha, já que não é possível conhecer todas as vozes.
Uma vez, assisti um TED na USP e em uma das palestras um biólogo que eu até então não conhecia, Átila Iamarino, falava sobre educação e usou uma brilhante metáfora ao comparar a informação com um bebedouro num deserto, sendo que antes o desafio era dar de beber à todos.
Hoje a informação é um dilúvio e o grande desafio é ensinar as pessoas a nadar.
O conteúdo é a informação e este tem e terá cada vez mais espaço.
Para fugir dos algoritmos e filtros bolha, os curadores de conteúdo se tornarão cada vez mais relevantes, afinal, já que se não temos tempo ou disposição para fazer escolhas, há quem as faça para nós.
Mas espere um pouco, isso não nos alienará?
Bem, isso é assunto para outra hora.
Por ora, o que se tem de resposta exata é que a minha vontade de ter respostas exatas, ficará só na vontade.
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